2011-07-18

SBSR'11

Meco, Sol e Rock’n’Roll”, a troika que o cartaz do SBSR prometia para a sua 17ª encarnação.
Pó, Trânsito e Filas”, a troika que os velhos do Restelo vão guardar desta colheita. Já a minha troika tem outros protagonistas: “Lykke Li, Portishead e Arcade Fire”.


Sim, o cartaz era bom.
O sol de Sesimbra, também. Tal como a piscina. Ou a praia a 2 minutos. E os caracóis da esplanada em cima da areia. Ou as amêijoas à Bolhão Pato. Ou o tigre grelhado com molho de caril e ananás. Ou a açorda de gambas. E o robalo, a dourada e os carapaus.
Ou seja, o cartaz encurtou a olhos vistos!

El Guincho
Pop espanhola, teclados, tropicalismo, pezinho a bater. Prometia mais do que o que cumpriu. Agradável mas descartável.

Beirut
A pop de Zach Condon é bonita de ouvir, mas o sucesso (merecido!) de “Elephant Gun” projecta-o para um campeonato que não me parece ser o seu. Ser (quase) cabeça de cartaz de um festival destes exige mais do que um concerto morno.

Lykke Li
Depositava boas expectativas no concerto desta sueca. E o melhor que posso dizer é que foram largamente superadas! O palco, com meia dúzia de faixas negras a esvoaçar, recebeu uma banda igualmente de negro vestida. Um baterista mais do que competente, um percussionista a acompanhar (e um bombo e um prato no meio do palco para o que desse e viesse…), um guitarrista que também era baixista, um teclista e uma menina em back a fazer coros acompanhavam uma Lykke Li elegante e simpática que mistura a delicadeza angelical de Lou Rhodes (dos Lamb) e a sensualidade rock da P.J.Harvey, numa pop cool preparada para outros voos. Um grande concerto!

Arctic Monkeys
O fabuloso concerto de Lykke Li fez-me perder a 1ª meia hora do concerto (nota positiva para a pontualidade dos espectáculos, nalguns casos – como neste - até a antecipar uns 5 minutinhos o início dos mesmos. Eu diria que neste, em particular, “não havia necessidade”…).
Depois da semi-desilusão que tinha sido a sua actuação no Coliseu do Porto (onde, por terem um público rendido à partida, não se aplicaram quanto poderiam e deveriam), os Monkeys mostraram que estão em forma e não deixaram que essa imagem continue a povoar o meu imaginário.
Faltou a “Dancing Shoes” mas a malta dançou à mesma! Energia q.b., nota positiva.

Portishead
Quando me dizem que não são banda para um festival, eu pergunto onde andavam em Agosto de 1998 quando o Sudoeste assistiu a um dos mais memoráveis concertos de sempre em Portugal. Quem lá esteve não tem dúvidas.
O melhor som do SBSR não foi por acaso. O perfeccionismo dos britânicos nasceu antes do imediatismo indie-pop made in internet das bandas que hoje fazem o cartaz do SBSR. Claramente não é esse o seu mundo. Mas, por muito pó que nos invada as narinas e por muito que se acentue a ansiedade à medida que se aproxima a hora do anunciado festim canadiano que se segue, ninguém consegue ficar indiferente à hipnose sensorial que emana da voz de Beth Gibbons.
Não se repetiu a magia de 98, seria impossível. Mas viu-se um dos grandes concertos de 2011.

Arcade Fire
A banda mais ansiada destes 3 dias, bem conhecida dos portugueses desde o épico concerto de Paredes de Coura em 2005, regressou após a novela que foi o cancelamento do espectáculo do Pavilhão Atlântico a expensas da cimeira da NATO. Tive oportunidade de vê-los no SBSR de 2007 e de revê-los o ano passado em Santiago de Compostela. Não era surpresa que são um furacão e que o turbilhão que se dá com as constantes trocas em palco se contagia à multidão e se propaga de forma galopante. Não foi diferente. A expressão “como se não houvesse amanhã” deveria ser musicada por Win Butler, Régine Chassagne e restante seita. Obviamente, o grande concerto deste SBSR.

Paus
2 baterias, teclado e baixo não será a formação habitual do rock, mas a receita parece estar a resultar. A (quase) ausência de voz pode, no entanto, impedir o crescimento do monstro. A manter debaixo de olho (ou de ouvido, neste caso).

Brandon Flowers
O menino bonito dos Killers lançou-se a solo. É legítimo. Tal como seria legítimo esperar grandes feitos de quem ao primeiro disco nos deu “Somebody Told Me” ou “Mr. Brightside”. Já me tinha convencido que, com a sua trupe, não seriam uns novos New Order. Agora convenço-me que o que ele quer mesmo é ser um novo Michael Bublé.

Junip
Da Suécia, com Jose Gonzalez ao leme. Vi ao longe. Não me parece ter perdido muito.

Elbow
Uma banda que em Portugal ainda não atingiu a notoriedade que goza por outras paragens. Um concerto interessante não foi suficiente para criar grande empatia.

Ian Brown
Este senhor foi um dos responsáveis por um dos discos obrigatórios da história da Pop, o disco homónimo dos Stone Roses, em 1989. Este senhor foi um dos responsáveis pelo pior concerto a que já assisti, em Vilar de Mouros, 7 anos depois dessa obra-prima ter nascido. A sua presença neste festival foi para confirmar que o verdadeiro Ian Brown é o de 1996.

Slash
Um ícone da minha adolescência. Um ícone do velho Rock. Um concerto competente, a apelar ao saudosismo dos Guns’n’Roses. Não fui eu o único a ficar com um sorriso nos lábios quando se fizeram ouvir “Sweet Child o'Mine” e “Paradise City”.

The Vaccines
Indie-pop na crista da onda. Do pouco que vi posso arriscar, sem grande margem para dúvidas, que o concerto, tal como a música dos britânicos, não vai ficar na história.

The Strokes
2001, Roma Megastore, Porto. Sem saber muito bem como, estou eu no posto de escuta com um disco de uma banda principiante. À primeira audição de “Is This It” fiquei completamente rendido e agradecido àqueles miúdos por terem resgatado o Rock do sepulcro em que tinha sido encerrado pela electrónica emergente que reinava e pelos derivados de música com guitarras que sucederam ao grunge dos inícios dos 90.
O disco passou de obrigatório no carro a obrigatório na mala quando me deu para andar por aí a exibir os meus dotes de mete-discos (ou mete-nojo, que vai dar ao mesmo), que não me podia dar ao luxo de prescindir de trunfos como “Last Nite, “Hard to Explain” ou “New York City Cops” .
2010, SBSR. Julian Casablancas a solo, sobe ao palco com um atraso considerável. Visivelmente combalido (palavra bonita, ah?) abandona o mesmo ao fim de 30 minutos. Não volta, nem dá satisfações a ninguém. Versão oficial: comeu frango estragado.
2011, SBSR. Albert Hammond Jr. estava lá. Os Strokes estavam lá. A música dos Strokes estava lá. Casablancas (promovido a Axl Rose desta geração) deve ter comido outra vez frango estragado. Grande azar para ele! Grande sorte para nós poder comprovar ao vivo que ainda há rock stars que levam à letra o velho lema do rock: sexo, frango estragado e rock’n’roll!